Travassos: julho 2006

quarta-feira, julho 19, 2006

telenovela do "cunha"


"relação de apontamentos de compras que fez o reverendo padre luiz da cunha de carvalho, e benfeitorias na sociedade de seu irmão josé da cunha de carvalho 20 anos que esteve de sociedade com ele, tendo 9 e 10 cabeças de gado vacum na casa, assim como tinha sempre uma boa cavalgadura e alguns anos uma e duas mulas que ia comprar à torre, comprava-as a 30 mil reis e a 7 moedas mamotas e vendia-as depois a 15 e 16 e 20 moedas cada uma, assim como o pão do património e das terras que comprou vendia todo alguns anos 40 outros anos 50 e 60 e 80 alqueires porque os anos não eram todos uns; e grangeado tudo à custa da casa e o dito padre comia da casa sem fazer gasto nenhum do dele e todo o que apurava era para ele, e dizia as missas de um legado no bilhó que lhe rendia cada ano 61.500 reis só nos domingos e dias santos, e o demais que ele podia ganhar nos outros dias tudo metia em si; gastei com ele para o ordenar 560.000 reis, e tinha menores e por umas pancadas que deu na era de 1826 ficou criminoso e para o livrar para ele se ordenar gasatei com ele mais 133.000 reis e de umas denuncias que derão para vila real à administração geral, por não dizer as missas nos dias santos abolido, como assim estava no estatuto, e do legado da escola que erão 59.500 reis, só ele pagava metade ao que dava a escola e ficava com a outra metade, sendo que este lagado da escola era junto com o das missas e ele era o que recebia e pagava à escola, porque nunca se quis sujeitar a dar à dita escola o dito legado devia dar 5$ para a igreja e nunca deu nada, e por isso tinha ele na denuncia de alcance 1.300.000 reis mas esta denuncia foi há 2 anos atrás, que durou a demanda em vila real 2 anos que ele já não estava bom da cabeça e eu neste tempo para lhe pôr tudo em limpo gastei 127.000 reis pelo meu trabalho e despesas que fiz em peitas e empenhos & elle ficou livre e nada gastou, só lhe tirarão a escola e a missa di-la quando quisesse, porem ele está maluco e querem-lhe tirar a missa; ele está apartado de mim há 14 anos com uma concubina; desejava saber se haverá meio de a pôr fora sem o pôr por demente a ele, e pô-la fora a ela e se é preciso requerer ao vigário geral para que o dito padre e ela vá à sua presença, porque ela é que o governa pois ele nada diz e está maluco; ou requerer ao governador civil para mandar ao administrador do concelho para a pôr fora a ela ou com uma atestação do juiz eleito da freguesia e do regedor com testemunhas em como ela o governa e o está roubando porque ele nada diz e a deixa com tudo e ele está sempre encerrado na sala e pouco sabe ou nada, e ela tem um filho casado ao pé da porta mas não é filho do padre e ela quanto pode ver e achar é para dar ao dito filho; e desde que saiu da minha companhia não fez mais compras nem benfeitorias nenhumas, e este ano grangeei-lhe o pão e mais o fumeiro e se lhe recolheu tudo a sua casa, ele podia vender muito pão porem ela lho está vendendo e fazendo interesse, porque ele está como acima se disse; ela já há anos tinha feito testamento, estando melhor da cabeça, e tinha deixado a um filho meu ou filhaque casasse na casa e à concubina nada lhe deixava e agora no dia 23 de julho deste ano fui à noite e pu-la fora de casa, foi ela chamar o regedor, isto eram 10 horas da noite e bateram à porta ela e o regedor e outro, estando eu já na cama e o padre e um criado e uma minha filha tudo acomodado e sossegado, eles bateram forte na porta que lha abrisse eu recusei e por fim abri-lha, e o regedor fez pôr o padre a pé e lhe entregou outra vez a dita concubina, e com isto se fez barulho e ajuntaram alguns vizinhos e estes me repreenderam porque eu lhe abri a porta e puzeram-se contra o regedor e ela; e logo mais o regedor de combinação com ela se foram aconselhar e depois disto ela e o regedor meteram-se com o padre e agarraram-lhe o testamento e abriram-no, dizendo-lhe que se podia compôr, dizendo a uns e outros vizinhos que o abriram e se podia remediar, não me opondo eu contra eles pois eu tenho testemunhas de tudo isto, e eu fiquei-me até hoje; porque tenho uma sobrinha, não valendo o testamento tinha igual com os meus filhos só se ele fizesse outro igual ao que tinha feito mas como ele está mal da cabeça.
em quanto a minha irmã mãe da dita minha sobrinha, a mãe já defunta, saiu desta casa em 1828 casou-se e se lhe entregou o que lhe pertencia, escritura de casamento de ana gonçalves teixeira e antonio gonçalves borges em 1832 aos 21 de agosto esta ana veio-lhe o dote do maranhão de um tio e padrinho de um conto de reis e outro igual para a outra irmã desta dita ana para casar com um primo direito dela, porque o dotante queria fazer bem a ela e ao sobrinho e tendo o dotante casado com 7 filhos no maranhão tirado aos seus filhos para fazer bem aos sobrinhos, e que fez cá o pai da dita ana e outro irmão padre e outro irmão dela que estava casado na casa, não quiseram que ela casasse com o primo, casaram-na com outro sem lhe ser parente, figurando cá como representante o tio dela padre sem ter procuração do irmão do maranhão, o dito padre dispôs de 500.000 reis deste dote sem que viesse remetido a ele nem tivesse procuração alguma, armaram esta maroteira sem ordem do tio do maranhão que mandou o dote, e além disso não assinaram a escritura e logo que o dito tio do maranhão soube de todas estas maroteiras mandou pedir a um amigo a copia da escritura e ordenou que em caso de não haver filhos deste matrimónio que o dito dote devia tornar aos filhos dele ou ser repartido por igual pelos irmãos dela e aconteceu o ela não ter filhos e estar viúva já há 10 anos e quer deixar tudo a um irmão felizardo e as outra irmãs nada."
este documento parece-me um apontamento feito pelo josé da cunha de carvalho para não se esquecer de nenhum detalhe destas novelas, terá sido feito cerca de 1865.
os cunhas, josé e o padre luiz eram da casa do cunha, a descendencia conhecida são os teixeira da cunha (picota).
a concubina penso que seria a minha antepassada joaquina ribeiro da eira, mãe de luiz (casanova), casado com uma sobrinha do padre luiz cunha, e maria engrácia.
os gonçalves teixeira eram do quarto.